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Qual o problema da resposta rápida?

Algumas pessoas quando buscam psicoterapia sentem-se muito bem com pouquíssimos encontros. Em três ou quatro sessões já querem parar os atendimentos, afinal, cheguei mal aqui e agora tô bem, valeu, tchau! Se isso acontecer com você vale pensar um pouquinho mais antes de abandonar a terapia.

Eventualmente, há casos que acabam sim sendo solucionados ou ressignificados em poucas sessões, as vezes em até uma conversa. Existem encontros realmente transformadores! Mas, geralmente, é uma exceção. Não tô dizendo aqui que psicoterapia é pro resto da vida, que deve demorar décadas e que só assim ela tem efeito. Se fosse isso, Psicoterapia Breve nem existiria (falo sobre ela em outro texto, ok?).

O que quero explicar é que um alívio mínimo pode acontecer se você começar a conversar semanalmente com uma psicóloga, mas o alívio do sofrimento não quer dizer que ele tenha sido resolvido. Como assim? Simples: não adianta mudar um comportamento se você não entende esse comportamento.

Vamos imaginar a seguinte situação: você está com uma pedra dentro do seu calçado e caminha com ela te incomodando o dia todo. Isso já aconteceu muitas vezes, mas você não consegue tirar essa pedra daí. Até encontrou um jeito de fazer com que ela fique num lugar menos incômodo no seu pé, mas sair, ela não sai. Aí você vai pra terapia e só de conversar com a psicóloga e contar da tal pedra você consegue, finalmente, tirá-la do seu calçado! Maravilha! É óbvio que você vai querer deixar a psicoterapia, afinal, o que te incomodava tanto não incomoda mais. Mas, vem cá. Será que não é interessante ver que pedra é essa? Por que ela ficou ali por tanto tempo? Quando ela entrou no calçado? Por que você não conseguiu se livrar dela antes? Isso já aconteceu mais de uma vez? Com outros calçados, talvez? Se você não entender sobre essa pedra, pode ser que ela volte. Se você buscar compreender toda a situação, aí sim você conseguirá ter mais autonomia pra decidir o que entra e não no seu calçado.

O problema da resposta rápida é que ela, não necessariamente, te livra da sua dificuldade ou do seu problema. Segredinho: Isso não significa que todo problema deve ser eliminado, mas falarei sobre isso num novo texto.

Talvez um exemplo menos metafórico ajude: pense em alguém que já teve vários namoros e em algumas conversas com uma psicoterapeuta, a pessoa consegue perceber que algo sempre se repetiu nos seus relacionamento amorosos. Ao perceber isso a pessoa imediatamente muda o comportamento repetitivo em seu namoro atual e tcharaaaam! Pronto, tudo resolvido, tchau terapia! Calma, respira e vamos juntos: eu defendo que é importante saber um pouco mais sobre esse comportamento antes de abandonar a terapia, afinal, como ele aparece? O que contribuiu pra ele ir embora? Entender detalhes como esses aumenta a chance do comportamento não voltar, ou até de, se voltar, que você saiba como agir de um jeito diferente em relação a ele. Você pode tirar a pedra do sapato e caminhar sem nada te incomodando por um tempo. Mas depois pode se distrair, deixando uma nova pedra entrar no calçado. E tudo bem querer ter uma pedra no seu pé volta e meia, desde que você saiba o que está escolhendo.

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