Por que pagar alguém pra me ouvir se tenho amigos que podem fazer isso? Por que ir toda semana na psicoterapia se posso conversar sobre a vida numa mesa de bar? Todo mundo já filosofou sobre a vida, precisa mesmo de psicólogo pra isso?
Te acalma e vamos juntos 🙂
Não falarei aqui se você deve ou não passar por um processo psicoterapêutico, pois já tratei desse assunto neste texto. Aqui vou te explicar algumas diferenças entre bater um papo com um amigo e com uma psicóloga(o).
A escuta é a primeira delas. Você já teve a sensação de não ser ouvido completamente? Ou julgado? Ou tentar desabafar sobre algo importante e o ouvinte tomar a palavra pra falar de um problema dele? E quando pra você é tão difícil falar que você se prepara um monte pra conseguir desabafar com aquele amigo específico e ele não te ouve como você esperava? Frustrante, né.
Obviamente, podemos encontrar relações acolhedoras na nossa vida, mas geralmente situações como essas acontecem nas conversas que temos por aí na vida. Não é à toa, tá todo mundo precisando falar, mas nem todo mundo tá afim de escutar. Sabe por que? Porque escutar, escutar de verdade, é difícil pra caramba! Num atendimento psicoterapêutico a escuta é uma das principais ferramentas que nós, psicólogas, usamos. E ouvimos de um jeito diferente porque fazemos o exercício de buscar compreender a experiência de quem nos fala, entender que sentido tem aquele sofrimento para aquela pessoa ali, sentada na nossa frente. Essa postura só é possível se eu não julgar o que a pessoa está me dizendo e se eu me “esquecer” momentaneamente do meu modo de ver a vida e lidar com meus problemas.
Um exemplo pra ajudar a entender: Vamos supor que uma pessoa diga a seu terapeuta que está muito difícil sair da cama, que não sente vontade nem de comer. Se esse terapeuta é alguém que ama viver e gosta de aproveitar todos os detalhes da vida, ele terá que, para ouvir abertamente seu paciente, deixar de lado um pouco esse seu jeito de viver a vida. Só assim será possível se aproximar da experiência daquela pessoa e, com isso, ouvi-la de acordo com o jeito que ela vive sua dificuldade em sair da cama. Se esse terapeuta ficar pensando coisas do tipo, “mas que absurdo, é só levantar” ou ainda, “mas o dia tá tão bonito, a vida não é tão difícil assim, isso é falta de vontade”, já era. Isso é um julgamento e julgar trava o nosso trabalho enquanto psicoterapeutas e pode restringir as possibilidades de quem atendemos.
A segunda diferença é que, ao ir pra psicoterapia, sua psicóloga não vai te interromper pra contar os problemas da vida dela e desabafar com você. Isso é antiético, não é profissional. A terapia é do cliente, não do psicólogo. (Isso não significa que você não possa saber nada a respeito da vida de seu terapeuta, e sobre isso eu explico aqui). Então aquele problema de “fui pra desabafar e acabei tendo que ouvir” não vai acontecer em um acompanhamento psicoterapêutico.
E claro, nós psicólogos(as), estudamos para poder estar na frente de uma pessoa e ouvir sobre seus medos, angústias, inseguranças. O que nos leva a não dar conselhos e dizer o que você deve fazer. Diferente de um amigo, observamos alguns detalhes que nos apontam outros caminhos, outras conexões. Vamos junto contigo tentar entender o que está acontecendo, procurar saber como você toma decisões e faz escolhas, vamos buscar compreender como é essa ansiedade que você sente e o que ela tá fazendo aí, vamos investigar o que te leva a agir como age e, finalmente, você conhecerá mais sobre você mesmo. E autoconhecimento é poder.