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Categoria: Psicologia

A Importância da Tristeza

Ficar triste não é legal, ficar triste é ruim, ficar triste dói e acinzenta o olhar. Ficar triste pode ser amedrontador. Mas, as vezes, ficar triste é necessário. Parece que atualmente, ficar triste está cada vez mais difícil, é cada vez menos aceito. Vivemos no mundo da vitrine virtual, onde vídeos com a iluminação perfeita, a maquiagem impecável e fotos retocadas recebem muito mais views e likes que vídeos e posts que falam sobre não estar tudo bem. Somos bombardeados com frases do tipo “vem ser feliz”, “destampe a felicidade”. É preciso cuidado, ninguém está feliz o tempo todo, pois isso é impossível.

E que bom que é impossível. Ao contrário do que pode parecer a tristeza não é sempre uma vilã que deve ser eliminada a qualquer custo. Antes de querer se livrar dela, que tal bater um papo e entender o que, raios, ela tá fazendo aí? Se a tristeza aparece, algum motivo há e este pode ser justamente o ponto: a tristeza serve para nos comunicar alguma coisa. Sem ela não olhamos pro que está desconfortável, clamando por mudança. A tristeza pode ser um pedido de socorro, de nós para nós mesmos, um convite pra reflexão.

Uma pausa.

Pra sentir, pra pensar. A tristeza pode nos aproximar de quem somos, nos ajudar a entender alguma situação da nossa vida, um padrão, relações. Ao nos convocar a olhar para o que precisa ser olhado, ela pode até nos ajudar a encontrar respostas.

Estar em psicoterapia pode te ajudar a lidar com a tristeza sem se desesperar, já que alguém estará te acompanhando nesse processo. Uma psicóloga também pode te ajudar a notar se a tristeza que se apresenta é muito forte ou se é uma tristeza necessária. Como assim? Bem, em alguns casos o sofrimento pode ser muito intenso a ponto de atrapalhar o dia-a-dia, a vida cotidiana. A avaliação de uma profissional é muito importante nessas situações, pois o acompanhamento com medicação pode ser necessário para aliviar um sofrimento que é demasiado intenso e ajudar a pessoa a se acalmar, a respirar um pouco e aí sim poder olhar para sua vida. Acompanhamento psiquiátrico pode ser fundamental, mas é importante que a medicação não tire todo o desconforto, pois um pouco dele é necessário pra que se perceba o que está acontecendo, para ouvir o que precisa ser escutado.

Pode parecer esquisito no começo, mas a tristeza pode ser um sentimento bom também. Que tal reparar no que ela tá tentando te dizer?

Por que conversar com uma psicóloga e não com um amigo?

Por que pagar alguém pra me ouvir se tenho amigos que podem fazer isso? Por que ir toda semana na psicoterapia se posso conversar sobre a vida numa mesa de bar? Todo mundo já filosofou sobre a vida, precisa mesmo de psicólogo pra isso?
Te acalma e vamos juntos 🙂

Não falarei aqui se você deve ou não passar por um processo psicoterapêutico, pois já tratei desse assunto neste texto. Aqui vou te explicar algumas diferenças entre bater um papo com um amigo e com uma psicóloga(o).

A escuta é a primeira delas. Você já teve a sensação de não ser ouvido completamente? Ou julgado? Ou tentar desabafar sobre algo importante e o ouvinte tomar a palavra pra falar de um problema dele? E quando pra você é tão difícil falar que você se prepara um monte pra conseguir desabafar com aquele amigo específico e ele não te ouve como você esperava? Frustrante, né.
Obviamente, podemos encontrar relações acolhedoras na nossa vida, mas geralmente situações como essas acontecem nas conversas que temos por aí na vida. Não é à toa, tá todo mundo precisando falar, mas nem todo mundo tá afim de escutar. Sabe por que? Porque escutar, escutar de verdade, é difícil pra caramba! Num atendimento psicoterapêutico a escuta é uma das principais ferramentas que nós, psicólogas, usamos. E ouvimos de um jeito diferente porque fazemos o exercício de buscar compreender a experiência de quem nos fala, entender que sentido tem aquele sofrimento para aquela pessoa ali, sentada na nossa frente. Essa postura só é possível se eu não julgar o que a pessoa está me dizendo e se eu me “esquecer” momentaneamente do meu modo de ver a vida e lidar com meus problemas.
Um exemplo pra ajudar a entender: Vamos supor que uma pessoa diga a seu terapeuta que está muito difícil sair da cama, que não sente vontade nem de comer. Se esse terapeuta é alguém que ama viver e gosta de aproveitar todos os detalhes da vida, ele terá que, para ouvir abertamente seu paciente, deixar de lado um pouco esse seu jeito de viver a vida. Só assim será possível se aproximar da experiência daquela pessoa e, com isso, ouvi-la de acordo com o jeito que ela vive sua dificuldade em sair da cama. Se esse terapeuta ficar pensando coisas do tipo, “mas que absurdo, é só levantar” ou ainda, “mas o dia tá tão bonito, a vida não é tão difícil assim, isso é falta de vontade”, já era. Isso é um julgamento e julgar trava o nosso trabalho enquanto psicoterapeutas e pode restringir as possibilidades de quem atendemos.

A segunda diferença é que, ao ir pra psicoterapia, sua psicóloga não vai te interromper pra contar os problemas da vida dela e desabafar com você. Isso é antiético, não é profissional. A terapia é do cliente, não do psicólogo. (Isso não significa que você não possa saber nada a respeito da vida de seu terapeuta, e sobre isso eu explico aqui). Então aquele problema de “fui pra desabafar e acabei tendo que ouvir” não vai acontecer em um acompanhamento psicoterapêutico.

E claro, nós psicólogos(as), estudamos para poder estar na frente de uma pessoa e ouvir sobre seus medos, angústias, inseguranças. O que nos leva a não dar conselhos e dizer o que você deve fazer. Diferente de um amigo, observamos alguns detalhes que nos apontam outros caminhos, outras conexões. Vamos junto contigo tentar entender o que está acontecendo, procurar saber como você toma decisões e faz escolhas, vamos buscar compreender como é essa ansiedade que você sente e o que ela tá fazendo aí, vamos investigar o que te leva a agir como age e, finalmente, você conhecerá mais sobre você mesmo. E autoconhecimento é poder.

Psicólogo ou Psiquiatra?

Afinal, quais as diferenças entre Psicologia e Psiquiatria?

A principal delas é a formação acadêmica. Um psiquiatra precisa fazer uma faculdade de Medicina e uma residência em Psiquiatria. Residência é uma espécie de pós-graduação que funciona como um curso de especialização. Psiquiatria é o braço da Medicina que se dedica ao diagnóstico e tratamento das doenças mentais*, com o objetivo de diminuir (ou até eliminar) os sintomas e melhorar a qualidade de vida. Um psicólogo deve se graduar numa faculdade de Psicologia: ciência que se debruça no estudo, compreensão e tratamento de processos mentais, comportamentais e na interação (ou integração) do ser humano com a sociedade, ambiente físico, cultural e espiritual.

O tratamento medicamentoso é outra diferença importante. Psicólogo não tem autorização legal para receitar remédio, psiquiatra sim. Há casos raros de psiquiatras que não prescrevem medicação e isso acontece quando eles percebem que não há causa orgânica ou neuroquímica para o problema da pessoas, as vezes é apenas uma dificuldade em algum momento da vida, por exemplo, que pode ser trabalhada de outra forma.

A frequência com que se visita cada um é relativa, mas geralmente as sessões com psicólogos acontecem semanalmente e com psiquiatras mensalmente, podendo mudar ao longo do tratamento para encontros bimestrais, trimestrais ou até semestrais.

Em relação ao sintoma é mais comum, na Psiquiatria, a busca pela eliminação dele. Veja, existem exceções importantes em que psiquiatras se aproximam da Psicologia nesse sentido, pois para os psicólogos “os sintomas, como tais, não são nossos inimigos, mas nossos amigos; onde há sintomas, há conflito, e conflito indica sempre que as forças da vida, que pugnam pela harmonização e pela felicidade, ainda lutam” – Aldous Huxley.

Mas se existem graduações diferentes e ênfases distintas, por que tanta confusão?

Primeiro porque um trabalho complementa o outro. Há coisas que a medicação dá conta e a Psicoterapia não, e vice-versa. Por exemplo: em casos de depressão o medicamento é importante para que a pessoa consiga realizar as atividades cotidianas (levantar, sair de casa, cozinhar, etc), já a Psicoterapia auxilia no entendimento das emoções e sensações relacionadas à depressão. Então, psicólogos e psiquiatras podem (e em alguns casos até devem) trabalhar juntos.

Segundo porque os psiquiatras também podem ser terapeutas. Isso quer dizer que, além da graduação em Medicina e residência em Psiquiatria, médicos psiquiatras podem fazer uma formação ou pós-graduação em alguma abordagem teórica da Psicologia (como Gestalt-terapia, Psicologia Fenomenológica-Existencial, Análise do Comportamento, Psicologia Corporal, etc) para se tornarem terapeutas, e aí eles mesmos podem conciliar no tratamento questões biológicas e psicológicas. Isso não é comum, por isso que nós da Psicologia ficamos bem felizes quando encontramos colegas psiquiatras interessados na nossa área do conhecimento.

Outra coisa que pode gerar essa confusão é que há psicólogos e psiquiatras que são psicanalistas. Resumidamente, a Psicanálise é um método de investigação do psiquismo e seu funcionamento, criada por Sigmund Freud. Isto é, a Psicanálise também é uma linha teórica dentro da Psicologia. O fato das palavras serem parecidas ajuda na confusão. Além disso, por também lidar com o sofrimento humano a Psicanálise está próxima tanto da Psicologia, quanto da Psiquiatria. Por isso é comum encontrarmos Psicólogos Psicanalistas e Psiquiatras Psicanalistas.

Entendendo um pouco sobre cada uma dessas duas profissões fica mais fácil entender que serviço procurar. Mas se dúvidas continuarem você me perguntar por aqui ou conversar com algum outro profissional das áreas.

*Há diversos outros termos que podemos utilizar e eles não existem à toa. Cada um deles tem um porquê, mas falarei sobre isso em outro texto.